Caminhos da agilidade em portfólios orçamentários
No Agile Trends Nordeste 2025, realizado em Recife, Amanda Gomes apresentou um case robusto da Globo, com foco na evolução da gestão de portfólio em ambientes com fluxos de trabalho que aparentam ser altamente orgânicos, como os de grandes veículos de mídia.
Seu objetivo: mostrar como, mesmo em cenários dinâmicos e não-lineares, é possível manter governança e visão estratégica usando OKRs (Objectives and Key Results), alinhando liberdade criativa e mensuração de resultados.
O contexto: infraestrutura, orçamento e agilidade na Globo
A Globo, conhecida por seus processos consolidados e cases de agilidade em várias áreas, enfrenta desafios particulares em infraestrutura.
Com um parque de ativos significativo e ciclos orçamentários tradicionais, projetos tendem a ser conduzidos sob normas rígidas, com acompanhamento via múltiplas planilhas — cada uma com vieses e métricas distintas.
Amanda questionou: como manter a agilidade sem abrir mão da exigência corporativa por planos e resultados de longo prazo?
A proposta metodológica: centralizar, estruturar e conectar
A resposta apresentada foi clara: migrar do caos controlado (planilhas isoladas, múltiplos responsáveis, visões fragmentadas) para um sistema unificado, com fluxo upstream alinhado ao ciclo orçamentário. Isso envolve:
- Centralização da gestão de iniciativas: consolidar dados e indicadores numa ferramenta única, substituindo planilhas redundantes.
- Implementação de ciclos OKR: definições trimestrais de objetivos estratégicos, acompanhando resultados-chave que importam — performance de ativos, redução de custos, velocidade de entrega e satisfação das áreas consumidoras dos serviços de TI.
- Upsync orçamentário: conectar propostas desde sua origem às linhas orçamentárias, alinhando timing de aprovação, execução e feedback.
Por que OKRs importam mesmo em ambientes orgânicos?
Amanda ressaltou que veículos de mídia têm um ritmo natural: mudanças rápidas no mercado, respostas a acontecimentos em tempo real e necessidade de autonomia das equipes.
Esse dinamismo pode parecer incompatível com estruturas rígidas. Mas é justamente aí que OKRs têm papel decisivo:
- O que importa é alinhamento, não controle: OKRs oferecem liberdade no “como”, mantendo foco no “o que” e “por que”.
- Transparência sobre métricas chaves: métricas como tempo de resposta, disponibilidade de sistemas e custo incremental tornam-se públicas, transformando instintos em dados compartilhados.
- Aprendizado contínuo: com ciclos curtos de revisão (trimestral), é possível ajustar rumo, aprender com erros e realinhar esforços, priorizando iniciativas de maior impacto.
Resultados esperados e já alcançados
Embora a palestra ainda fosse recente, Amanda trouxe algumas conquistas iniciais:
- Redução de redundâncias e retrabalho — com menos planilhas, houve ganho de tempo e melhor consistência nas informações.
- Visão integrada das iniciativas, com painel único permitindo acompanhamento em tempo real dos OKRs e de seu impacto no orçamento.
- Adoção gradual de ciclos upstream, garantindo que cada nova proposta fosse orçada, aprovada e acompanhada desde sua concepção à entrega.
Essas ações já começam a construir uma cultura híbrida — mesclando a agilidade tática ao cotidiano da operação com um planejamento estratégico sólido.
Desafio cultural: do “fazemos assim sempre” à mentalidade orientada a resultados
Amanda destacou que adotar OKRs em uma empresa como a Globo exige mais do que ferramenta ou processo: é uma mudança de mentalidade. Líderes e equipes precisam internalizar que:
- Planejamento de longo prazo precisa existir mesmo com rotinas voláteis.
- Disciplina para acompanhar KPIs não é burocracia, é sobre tomada de decisão informada.
- Falhar rápido em direção aos objetivos vale mais do que insistir em táticas ineficazes.
Esse mindset, uma cultura de autogestão apoiada por transparência e foco, é o grande legado que Amanda busca fomentar.
Compartilhamento no Agile Trends: agilidade com propósito, não apenas método
A palestra de Amanda Gomes foi uma demonstração prática de que, mesmo com fluxos de trabalho altamente orgânicos, é possível construir uma gestão estruturada quando se define:
- Objetivos claros e mensuráveis (OKRs)
- Ferramentas que centralizam e dão visibilidade
- Ritmo de entrega ligado a ciclos orçamentários
- Cultura de aprendizado e dados como base de decisões
O case da Globo revela que agilidade não é sinônimo de improviso: é disciplina no ritmo certo, liberdade no método, foco no que importa. É o equilíbrio entre descentralização criativa e gestão responsável — uma proposta poderosa para qualquer organização que deseja unir inovação e solidez.