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Uso de IA por Desenvolvedores: riscos, vantagens e o equilíbrio necessário

Nos últimos 15 anos, o trabalho de desenvolvimento passou por ondas de transformação: do uso de simples editores de texto para IDEs robustas, da integração manual para pipelines automatizados, do versionamento local para sistemas colaborativos em nuvem. A IA generativa é apenas o próximo passo dessa evolução.

Assim como as IDEs facilitaram refatorações, depuração e organização de projetos, a IA hoje ajuda a acelerar tarefas repetitivas, sugerir soluções, documentar trechos de código e até simular cenários de arquitetura. O diferencial é que ela não apenas automatiza, mas também “pensa junto”, e é aí que mora tanto o valor quanto o risco.

O erro de ignorar a IA

Negar o uso de IA em um projeto de software é como, 15 anos atrás, insistir em editar código no bloco de notas quando já existiam IDEs muito mais eficientes. O profissional até pode entregar, mas estará desperdiçando energia em tarefas que já poderiam estar otimizadas.

Em um mercado cada vez mais competitivo, onde tempo e custo pesam nas decisões de negócio, não usar IA é abrir mão de produtividade, inovação e vantagem competitiva. O resultado é simples: os que adotam a tecnologia com consciência entregam mais, em menos tempo e com mais consistência.

O risco do uso irracional

Se por um lado ignorar a IA é erro, por outro acreditar que ela substitui experiência é ainda mais perigoso.

A ilusão de que basta copiar e colar respostas de uma IA para pular do nível júnior ao sênior é sedutora — e equivocada. Sem conhecimento sólido de algoritmos, estruturas de dados, arquitetura de software e boas práticas, o desenvolvedor não tem como avaliar a qualidade ou a adequação das sugestões que recebe.

O risco é construir sistemas frágeis, com falhas ocultas e alta dependência de um modelo que não tem responsabilidade sobre o resultado final. Nesse cenário, o custo do retrabalho, das correções e do desgaste com o cliente inevitavelmente supera o “atalho” inicial.

IA como amplificador de repertório

A verdadeira vantagem da IA não está em substituir o conhecimento humano, mas em amplificá-lo. Quanto mais bagagem técnica e prática um desenvolvedor possui, maior o repertório que ele tem para questionar, adaptar e contextualizar as sugestões de uma IA.

Um sênior bem formado sabe identificar quando a resposta está desalinhada com a arquitetura do sistema, quando há risco de performance, quando existe uma vulnerabilidade de segurança. Já um profissional sem base sólida pode aceitar qualquer saída como válida — e o barato sai caro.

A IA, nesse sentido, funciona como um espelho do repertório do desenvolvedor. Ela devolve possibilidades, mas é o humano quem valida, filtra e decide.

O papel da liderança

Para gestores de tecnologia e inovação, a reflexão vai além do indivíduo. Não basta permitir ou proibir o uso da IA — é preciso criar diretrizes claras de uso consciente.

Isso inclui:

  • Treinamento do time → capacitar desenvolvedores para avaliar e aplicar corretamente as sugestões de IA.
  • Revisão de código estruturada → garantir que nada chegue à produção sem passar por critérios de qualidade definidos.
  • Documentação e rastreabilidade → registrar o que foi gerado por IA e o que foi ajustado pela equipe.
  • Ética e segurança → definir limites para o uso de dados sensíveis em ferramentas externas.

Gestores que tratam a IA apenas como uma “moda” correm o risco de perder competitividade. Já os que enxergam seu uso como um processo cultural e técnico têm a chance de acelerar entregas sem abrir mão da solidez.

Entre o bloco de notas e a Ferrari sem freio

No fim, a discussão se resume a um equilíbrio claro:

  • Não usar IA é se prender ao passado, como se ainda estivéssemos programando em bloco de notas enquanto IDEs já existiam.
  • Usar IA de forma irracional é como dirigir uma Ferrari sem nunca ter aprendido a frear: rápido na arrancada, mas perigoso e insustentável.

A chave está no meio do caminho: usar a IA como um parceiro estratégico, que multiplica a produtividade e amplia as possibilidades, mas que exige conhecimento, contexto e repertório para ser verdadeiramente útil.

A reflexão final

A inteligência artificial não vai transformar um iniciante em especialista da noite para o dia, mas pode transformar especialistas em profissionais ainda mais poderosos.

A grande questão é: você quer ser o desenvolvedor que dá bom dia para o bug como colega de equipe, ou o que usa a IA para construir sistemas mais estáveis, robustos e inteligentes?

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Por Moisés Falcão

Com mais de 20 anos de experiência em em desenvolvimento de produtos digitais. É Gerente de Tecnologia e Inovação no Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, além de articulista no Portal NE10, E-commerce Brasil e PapoDeDev. Também mantém a newsletter "Agilidade Executiva" no LinkedIn, onde compartilha insights sobre inovação, gestão de produtos e agilidade.

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